terça-feira, 31 de julho de 2007






Hoje a noite fui surpreendido por uma notícia... que a data atual não era uma qualquer, mas data especial. Não sei o que há comigo que raramente me felicito em datas festivas onde outros se alegram. Assim é no Carnaval, na Páscoa, no Natal, no dia dos namorados... e assim foi hoje. Pego de surpresa, caro leitor, não pude me estender muito nas reflexões, mas por favor aceite essa humilde reflexão na comemoração do Dia do Orgasmo!!!

(In)Feliz Dia do Orgasmo

Esse texto é sobre aquele que têm sido o maior xodó da sociedade pelos tempos: o sexo! Pena que para manter sua função social garantida ele não pode ser realizado entre duas pessoas!!!


O modismo de hipervalorização, e superficialização, da cultura oriental ostenta o Tantra como a prática do gozo ideal; machos adolescentes consomem desenfreadamente Viagras na busca do sucesso seguro de sua iniciação sexual, assim como amuleto mágico contra os fantasmas que assombram suas virilidades escorregadias; o négocio pe gozar mais e o maior número de vezes. O instinto sexual se materializa no homem como liberação de sua animalidade. Trepar como cachorro, gozar como porco, ser eficiente como o coelho... o coito se realiza sempre entre o garalhão e a potranca! As mulheres, que em gerações passadas queimaram sutiã em praça pública, clamam o direito de que a adjetivação "galinha" tenha a mesma conotação social que a adjetivação "galo"... E eu que não passo de um pintinho acho tudo ridículo e absurdo!!!

A sociedade do entretenimento cultua o sexo hedonista e individualizante como fórmula certa para o aumento do consumo. Na nigth, na wibe, ou seja onde for, o lance é o pega-pega e o mata-mata, num jogo de aparências e sedução que mais lembra o velho-oeste americano e sua luta desenfreada por território.

Quanto mais melhor, e quem conseguir menos perde. Na busca desse objetivo se desvincula a relação sexual do compromisso amoroso, e social (o que acho ótimo), mas sem se prestar muita atenção se enfia juntamente no lixeira o compromisso com o outro e o prazer do encontro (o que acho péssimo).

Mas isso é mais que normal, é a consquista histórica da libertação sexual do homem de valores morais que a restringiam, brandaram alguns dizendo-se revolucionários e achando-se moderninhos. Olho pra eles e acredito que não vêem a mesma coisa que vejo: o aumento do número de adolescentes com bulimias e anorexias da vida e a "descoberta" de uma nova doença da imagem corporal já em plena expansão entre os jovens masculinos, a vigorexia. Quando vejo esses dados não consigo evitar a idéia de qe corpos produzidos de forma tão doente e alienada podem até gozar mais em seus ímpetos consumistas, mas sem dúvida não consiguem gozar melhor! E enquanto todos acreditam sair ganhando com a liberação sei lá de quê, aumentando cotas pessoais de pega-pega, ós únicos que apresentam lucro incontestável são as multinacionais de cosméticos, de emagrecimento, de bebidas alcóolicas e automobilistas, que propagandeiam o acesso a um corpo perfeito (seu ou do outro), ludibriando seus consumidores com uma brincadeira de esconde-esconde.

O que fico pensando é se as praias de nudismo também se encontram repletas desses out-doors eróticos-consumistas que vejo por aí, e comemoram o dia do orgasmo com uma alegria ávida de sexo fast-food... Prefiro acreditar que não, que em algum lugar o corpo e o sexo continuam sendo coisas naturais, não mercantilizáveis.

Que me desculpem os ninfomaníacos se estou sendo cruel demais, não tenho nada contra eles, pelo contrário. Mas acho que sexo não se trata apenas de caça ou oportunidade, assim como o orgasmo não é garantido pela tecnica X, posição Y e preliminares Z, como gostam tanto de nos fazer acreditar as revistas masculinas e femininas que à décadas lançam a mesma idéia todos os meses. Transar com outra pessoa fazendo dela um objeto para a obtenção de prazer pode ser bom as vezes (especialmente quando ambos estão de comum acordo), mas acho mais interessante ver o sexo como um encontro entre Eu-Tu do que como uma relação entre Eu-Coisa. O pansexualismo é um sintoma claro disso: qualquer coisa ta valendo, um homem, uma mulher, uma árvore, uma máquina de lavar roupas ou um pneu de fusca, tanto que se goze no final!

Que me desculpem os revolucionários, mas essa liberdade eu não quero! E (in)feliz dia do orgasmo para vocês.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Homenagem Póstuma ao Dia dos Namorados

Nossa cultura ocidental possui uma estranha mania de adjetivar um dia do calendário sempre que almeja apaziguar os animos de alguma minoria excluida ou aumentar o consumo de suas mercadorias. E comemorar o dia dos namorados representa isso muito bem. Na época do tão badalado ficar, onde a moral familiar procura se acostumar com esse novo "modismo" juvenil, quem possui um namoro a moda antiga está erguendo as mãos pros céus. E o mercado agradece!!!

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Venho através deste prestar minhas condolências... condolências póstumas ao Dia dos Namorados... Não sei ainda como aconteceu, e as lágrimas que escorrem em minha face ainda me impedem de compreender se o que morreu de fato foi o Dia deles, Eles, ou o Amor que os unia. Na duvida, presto pessames aos três

Assim, acho as vezes que a melhor descrição do ocorrido é que o dia matou os namorados... Matou-os quando lhes pediu para representar seu amor em mercadoria. O presente, não agradando ou sendo trocado, acabou por matar a possibilidade de amor gratuito que os unia...

A efemeridade das relações, ao certo, foi cúmplice do crime. Quando as pessoas começaram a representar cada vez menos uma para as outras, e o sentimento onde outras horas tão fascinantes poetas se embriagaram foi vulgarizado pela competição numérica de quantos pares uma individualidade é capaz de formar numa noite, aí agia a efemeridade. Assim, "MuitosPares" acabou por matar "UmParPraSempre", e sem nenhum dos dois para consolar-nos, acabamos sozinhos no fim dos dias.

Dizem as más linguas que o senhor Mercado se alegrou com a morte do falecido, ouvi no jornal hoje ao meio dia que estava a comemorar suas vendas que aumentaram em quase 60 % este ano.

E eu aqui, nem triste nem alegre, apenas reflexivo como sempre, fico pensando nesta época em que as próprias relações são efêmeras e consumíveis, e consequentemente consumistas, ou isto ou antiquadas e repressivas. Reflito e espero por um dia em que nós, então nem mais ficantes inconstantes nem eternos namorados pegajosos, possamos nos lembrar do falecido "12deJunho", e homenager sua morte utilizando os outros 364 dias do ano que nos restaram para estabelecer relacionamentos onde amar e ser amado constituam o único objetivo. E acabo por perceber que sua morte valeu a pena... No fim das contas, "12deJunho" morreu como herói!

Rafael Machado

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Pra que serve o Amor no século XVII???




Arnolfo - ... Passou bem o tempo todo? Pelo visto...

Inês - Com exceção das pulgas, que me incomodam a noite toda.

Arnolfo - Já já, você terá alguém para catá-las.

Inês - Oh, que alívio!


...

Escola de Mulheres
Molière*
* Jean-Baptiste Poquelin - o Moilère - nasceu em paris a 15 de janeiro de 1622. Foit ator, diretor e autor de sátiras sociais, como As preciosas ridículas, Shanarello, Escola de maridos, Escola de mulheres, O Tartufo, Dom Juan, o misantropo, O burguês fidalgo, O doente imaginário e outras.
Seu interesse por teatro nasceu das representações dos cômicos de feira, das tragédias de Corneille e dos espetáculos da Comédia dell`arte, gênero teatral italiano, baseado na improvisação e na expressão corporal dos atores. (Retirado de Escola de mulheres, Coleção Leitura, Paz e Terra)

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Eva e Lilith na telinha do plim-plim






Dizem as línguas mais ferinas que Adão, nosso grande patriarca, se divertiu as tantas antes de desposar nossa grande mãe, Eva. Segundo os boatos, espalhados pelos seguidores da esotérica Cabala, seus divertimentos realizaram-se com Lilith (1), primeira mulher a caminhar pelas bandas do Éden. Contudo o divertimento foi muito mais pro lado dele do que pro dela. Sentindo-se ofendida por permanecer na parte de baixo durante os coitos divinos, reclamou ao Grande Juiz para interceder a seu favor. Não sendo atentida, e possuidora de uma personalidade bastante forte, pegou suas trochas, que consistiam de meia dúzia de frutas, e rumou para terras ermas. Wierus (2), demonólogo antigo, afirma que Lilith acabou por se casar novamente (alguns fofoqueiros afirmam que Satanás foi seu segundo companheiro), e tornou-se mãe e rainha dos demônios súcubos.

Durante a Idade Média, diz a lenda, Lilith aparecia nas noites de lua nova sob a forma de uma mulher esbelta que seduzia e arrastava os homens aos becos, tendo relações sexuais com eles, e durante tal ato, no qual Lilith permanecia encima do companheiro, os matava asfixiados. Da mesma época também corre a lenda de que Lilith aparecia durante a madrugada para buscar os recém nascidos e leva-los ao inferno. Para proteger as criancinhas, as mães assustadas grafavam em seus berços o nome de três anjos. A Igreja Católica, como era de se esperar, desmentiu tais boatos.

O caso é que estas estórias transformam Lilith na figura da mulher infernal, insubmissa e sedutora, seria a inimiga primordial dos bons costumes, do amor cristão, da castidade e da família. Por outro lado, dado a postura contestatória frente as regras divinas da submissão da mulher ao homem, Lilith também é considerada mitologicamente a primeira feminista.

Talvez ai também se esconda o mistério pelo qual nós, animais mamíferos que nos escondemos sob a denominação de homo sapiens sapiens, tenhamos demorado tantos milênios para realizar o que alguns chamam de Revolução Sexual: sofremos sob a herança genética de uma mulher com pouco pulso e bastante sem sal.

O que me trás a construção deste texto, contudo, não é nossa pouca sorte, mas sim a nova novela das seis da Rede Globo, Eterna Magia. A trama se desenvolve numa pequena cidadela rural em meados dos anos 60 (imagino), cuja lenda regional envolve a presença de uma áurea mágica assim como a presença de bruxas. O drama se constrói sobre a vida de Conrado (Thiago Lacerda) e Nina (Maria Flor), quando a irmã mais velha desta, Eva (Malu Mader), que construiu uma brilhante carreira como pianista na Europa, volta à cidadezinha. Conrado e Nina amam-se com o melhor amor cristão que há, e estão prestes a se casar e constituir família, até que Eva cruza com Conrado em lugar ermo, e sem saber quem ele é, o deseja. Nesse encontro, fruto do desejo e do poder de sedução de Eva, ambos se beijam. A partir disso Eva decide conquistar o caipira, e Conrado, sabendo quem ela é, adentra um inferno existencial formado por culpa e desejo. A Nina, Conrado ama, a Eva ele deseja.

Não quero me prolongar na descrição dos fatos. Meu intuito aqui é refletir sobre as imagens do feminino transmitidas em cadeia nacional por nossa amada Rede Globo. Mais precisamente gostaria de discutir a dualidade do feminino, representada pela meiga, angelical e mirrada Nina e pela sedutora, contestadora e maquiavélica Eva. A primeira representa a bondade, a castidade, a ingenuidade tipicamente cristãs. A segunda, de forma bastante irônica visto seu nome, representa o mito da mulher fatal protagonizado inicialmente por Lilith.

É comum assistirmos na televisão, seja em novelas como essa, como também, e principalmente, em filmes (alguém lembra de Sharon Stone em Instinto Fatal?), a representação da figura feminina como uma figura diabólica, capaz de corromper a pureza do masculino, como nosso Conrado, através do poder de sedução que sua imagem forte e independente transmite. Mais que isso, a mulher sedutora é representada como diabólica, como traiçoeira, como inimiga dos bons costumes e da tradição que os prega. Visto de outra forma, dicotomiza-se o amor (visto de forma cristã) e a sedução na figura da mulher. Dicomiza-se o bem e o mal, sendo a mulher casta a defensora do primeiro, e a mulher sedutora a possuidora dos poderes do segundo. Por isso essa mulher deve ser combatida, deve ser temida, deve ser eliminada (3). O mesmo não acontece na construção dos personagens masculinos. Embora vilãos, poucas e raras vezes são eles tão destruticos da moral católica como as mulheres vilãs o são.

Ressalta-se desta forma a disseminação de valores ideológicos pela mídia brasileira. Não que isso seja grande novidades nesta Terra Brasilis, mas que este fato realizado em tempos de liberação sexual, de luta pela igualdade feminina, pelos direitos dos GLBTS, pela defesa do princípio da cidadania para tod@s, indepentente da orientação sexual, pela defesa ao direito da própria expressão da sexualidade, de sua experienciação numa época em que as subjetividades são cada vez construídas de forma mais superficiais, que os relacionamentos pós-modernos são baseados em amores líquidos, e que a construção dos corpos se encarrega de construir ondas de anoréticas, bulímicas e vigorexos decorrentes do culto a uma beleza pré-estabelecida pela mídia. Nestes tempos, a diabolização do feminino como feminino sedutor é realmente uma atitude pré-histórica, no sentido de querer fazer a história andar pra trás (4).

Quero concluir esta breve reflexão ressaltando o seguinte: existe em nossa cultura ocidental um medo perverso da figura de todo feminino que se manifesta em sua origem, do feminino "puro", primordial, feminino incapaz de ser capturado pela moral conservadora do cristianismo, que rompe com a moral burguesa da sexualidade, que expressa sua sexualidade e sua sedução, que se mostra independente da tutela masculina, e aí mesmo se encontra sua sensualidade, sua atração, seu mistério, e, sobre o homem burguês, cristão, conservador, adorador dos "bons costumes", sua capacidade de leva-lo ao beco, e deste ao inferno.

Rafael Machado do Livramento

(1) Não tenho em memória onde li sobre estas informações de Lilith pela primeira vez. Coloco aqui então algumas referencias que o leitor poderá encontrar na internet para compreender melhor esta figura mitológica:

(2) Dicionário de Ciências Ocultas. Parte II. Edição Especial Revista Planeta. Editora Três.

(3) Vale lembrar aqui a novela Mulheres de Areia, onde a mesma dualidade é representada pelas irmãs gêmeas Raquel e Ruti. Quem se esquecerá dos infinitos "A Rutinha é boa, a Raquel é má" repetidos por Tonho da Lua ao longo de seus capítulos?

(4) Na construção patriarcal de nossa sociedade não sobrou espaço para boas representações femininas, existem apenas as menos piores. Dicotomizei nesse texto Eva e Lilith, mas isso se refere a uma dualidade como mulher cristã e como mulher não cristã. Embora hoje o cenário é muito distinto de 2000 anos atrás, vale lembrar que o Catoliscismo considera Eva a causadora do pecado original, fonte de todas as desgraças do homem.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Canibalismo Amoroso


Escrevi este texto no ano de 2003, pelo menos é a época que me surge quando penso nele. Este foi o período em que comecei a refletir de forma mais consistente sobre os relacionamentos amoros, digo de forma mais consistente porque acredito que esta reflexão é feita por todos, de uma forma ou de outra, deste que ouvimos o infeliz questionamento que busca nos ensinar o conceito de Identidade... "Quem é o amor da mamãe?".
De lá para cá a reflexão, mesmo identificada simbioticamente com a ação, sobre os relacionamentos amorosos ocupa espaço na vida de todos, mesmo que em seu contrário, na reflexão sobre a falta de amor.
Por ser antigo, este texto possui ainda algumas crenças limitantes do amor burguês, e mesmo um certo tom romancista, que hoje não condizem mais com a realidade. Mesmo assim, e creio também justamente por isso, coloco este texto neste momento.

Abraços a todos



CANIBALISMO AMOROSO


Por Rafael Machado


Ela cortou o namorado em pedaços e ensopou, enquanto a cabeça e os pés foram ao forno. É real, pode procurar no jornal. Todo mundo se assusta e acha a coisa um tanto maníaca, mas devo confessar que gostei da idéia. Canibalismo amoroso, é como classifiquei o fato, e se as pessoas se assustam é porque não percebem que esse é um acontecimento coditiano.


Amamos para sermos amados, estabelecendo uma relação de troca com nossos parceiros. "Eu te amo", dizemos, mas se em seguida não ouvirmos um "eu também" tratamos logo de quebrar o vínculo e procurar outra pessoa disposta a nos dar aquilo que precisamos. Não sei se isso é bom ou ruim, apenas falo do que acontece.


Não temos o costume de darmos amor. Pelo contrário, o comercializamos, e isso porque precisamos do outro para nos sentirmos amados. A lógica é um tanto simples: como eu não consigo me amar e nem você consegue se amar, então eu te amo e você me ama e tudo acaba bem. Ficamos mais leves, mais sorridentes, mas felizes, e aquela sensação de vazio e solidão que tanto nos encomoda desaparece.


Mas acontece que amor não é moeda, não é favor, não é tapa-buraco. Não pode ser trocado, medido ou cronometrado. Não obedece as leis do comércio, não rende juros. Amar é coisa boa, simples, de fácil acesso. Surge espontaneamente com o ato de ser quem se é, de ser inteiro, feliz, completo. Nada de procurar metade de laranja, de ler horóscopo para achar a alma gêmea que se esconde Deus sabe onde. O amor surge e se multiplica quando a gente se encontra com a gente mesmo no tempo presente. E se eu tenho de sobra eu posso te dar sem precisar mais receber em troca. Migalhas de paixão é aquilo que trocamos, e amor gratuito é aquilo que nos preenche.


E é nesta necessidade do outro para nos sentirmos preenchidos que nós o ensopamos e comemos, e esta é apenas a forma mais material da coisa: devorar o outro para matarmos nossa fome de afeto e de carinho.


Eis um belo jantar a luz de velas. Numa cadeira, nós, os devoradores. Como prato principal as sobras de um relacionamento que não nos sacia mais. E a outra cadeira permanece vazia, disposta a receber outra pessoa vazia que nos procure para se preencher. Aí as leis da selva falam mais alto: é matar ou morrer!

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NOTA:

Achei recentemente esta notícia e resolvi anexá-la aqui para exemplificar a materialidade de minhas idéias...

Mulher mata, corta e frita o marido na Bahia

A polícia prendeu neste sábado em Salvador a dona-de-casa Rosanita dos Santos, 47 anos, acusada de matar, esquartejar e fritar o marido, o soldado reformado da Polícia Militar da Bahia, José Raimundo dos Santos, 52 anos.

Os pedaços do corpo de José Raimundo foram encontrados escondidos em um saco plástico na casa do casal na vila São Cosme, periferia da capital baiana. A polícia acredita que a acusada retalhou o corpo do marido em cem partes para se livrar dele mais facilmente.

Os pedaços foram fritos em óleo - para evitar o mau cheiro - e colocados no saco. Rosanita negou participação no crime e disse que o marido cometeu suicídio.

Fonte: Terra Notícias em 23 de Junho
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI568817-EI5030,00.html

quinta-feira, 24 de maio de 2007

A Praga

(Adão e Eva é um dos quadros mais famosos de Dürer. Foi pintado em 1507 e pode ser admirado no Museu Nacional del Prado, em Madrid.)

Recebi este texto por e-mail, afirmando ser de autoria de Rubem Alves... Sempre aviso quando recebo os textos da rede, melhor prevenir que remediar. Sou grande adorador de Rubem Alves, e espero discuti-lo em breve neste espaço... enquanto isso um pouco de seu fantástico pensamento irônico.


A Praga



“Permitir o divórcio equivale a dizer: o sacramento é uma balela. Donde, a Igreja Católica é uma balela...”



É bom atentar para o que o papa diz. Porta-voz de Deus na Terra, ele só pensa pensamentos divinos. Nós, homens tolos, gastamos o tempo pensando sobre coisa sem importância tais como o efeito estufa e a possibilidade do fim do mundo. O papa vai direto ao que é essencial: “O segundo casamento é uma praga!”


Está certo. O casamento não pertence á ordem abençoada do paraíso. No paraíso não havia casamento. Na Bíblia não havia indicação de que as relações amorosas entre Adão e Eva tenham sido precedidas pelo cerimonial a que hoje se dá o nome de casamento: o Criador, celebrante, Adão e Eva nus, de pé, diante de uma assembléia de animais, tudo terminando com palavras sacramentais: “E eu, Jeová, vos declaro marido e mulher. Aquilo que eu juntei os homens não podem separar...”


Os casamentos, o primeiro, o segundo, o terceiro, pertencem á ordem maldita, caída, praguejada, pós-paraíso. Nessa ordem não se pode confiar no amor. Por isso se inventou o casamento, esse contrato de prestações de serviços entre marido e mulher, testemunhando por padrinhos, cuja função é, no caso de algum dos cônjuges não cumprir o contrato, obrigá-lo a cumpri-lo.


Foi um padre que me ensinou isso. Ele celebrava o casamento. E foi isso que ele disse aos noivos: “O que vos une não é amor. O que vos une é o contrato”. Aprendi então que o casamento não é uma celebração do amor. É o estabelecimento de direitos e deveres. Até as relações sexuais são obrigações a ser cumpridas.


Agora imaginem um homem e uma mulher que muito se amam: são ternos, amigos, fazem amor, geram filhos. Mas, segundo a igreja, estão em estado de pecado: falta ao relacionamento o selo eclesiástico legitimador. Ele, divorciado da antiga esposa, não pode se casar de novo porque a igreja proíbe a praga do segundo casamento. Aí os dois, já no fim da vida, são obrigados a se separar para participar da eucaristia: cada um para um lado, adeus aos gestos de ternura... Agora está tudo nos conformes. Porque Deus não enxerga o amor. Ele só vê o selo eclesial.


O papa está certo. O segundo casamento é uma praga. Eu, como já disse, acho que todos são uma praga, por não se da ordem paradisíaca, mas da maldição. O símbolo dessa maldição está na palavra “conjugal”: do latim, “com”= junto e “jugus”= canga. Canga, aquela peça pesada de madeira que une dois bois. Eles não querem estar juntos. Mas a canga os obriga, sob pena do ferrão...


Por que o segundo casamento é uma praga? Porque, para havê-lo, é preciso que primeiro seja anulado pelo divórcio. Mas, se a igreja admitir a anulação do primeiro casamento, terá de admitir também que o sacramento que o realizou não é aquilo que se afirma ser: um ato realizado pelo próprio Deus. Permitir o divórcio equivale a dizer: o sacramento é uma balela. Donde, a igreja é uma balela... o divórcio ela seria rebaixada do seu lugar infalível e passaria a ser apenas uma instituição falível entre outras. A igreja não admite o divórcio não é por amor á família. É para manter-se divina...A igreja, sábia, tratou de livrar seus funcionários da maldição do amor. Proibiu-os de se casarem. Livres da maldição do casamento, os sacerdotes têm suprema felicidade de noites de solidão, sem conversas, sem abraços e nem beijos. Estão livres da praga...



RUBEM ALVES

A Provocação




A provocação para criar este blog surgiu de algumas discussões que participei na comunidade Amor Livre, no orkut. Provocação não com sentido de ter sido desafiado por alguém, mas do significado latino, pro vocare, algo como chamar a vocação de volta... As discussões naquela comunidade fizeram isso comigo. Compreendi nas falas que li um anseio forte em vencer formas de relacionamento repressivas, sufocantes, angustiantes, que não ajudariam a pessoa a vivenciar toda a sua capacidade de amar. Porém, embora as intenções sejam verdadeiras, existe muita confusão ao lidar com novos conceitos e definir novas coisas, o que acredito provocar uma dificuldade no processo de construção da mudança.

Assim, acho justo que os primeiros textos que poste neste blog sejam frutos dos comentários que postei na comunidade Amor Livre, pois foram suas discussões que me provocaram até aqui e foi lá que percebi que já era a hora de divulgar essas idéias. O texto que segue, portanto, é baseado num comentário sobre o tópico:



Afinal... O que é o amor???


Há muito tempo eu escrevi sobre um relacionamento, e as palavras têm se fortificado a cada novo enlace... Amei, amo, e continuarei amando, sem saber ainda o que é o amor. Anos depois Roberto Freire me abençoou com sua graça, afirmando que do amor é impossível fazer biópsia, somente autópsia. Contudo, invariavelmente, me pego constantemente em duas indagações filosóficas: "O que é o amor?" é a reflexão que surge quando estou sozinho, e "Eu amo?" é pergunta freqüente logo que me apaixono. A primeira pergunta me cala, a segunda me apavora.

Confesso que tenho uma certa inveja das pessoas que me afirmam que não se preocupam com essas dúvidas, afirmando categoricamente que definir é limitar, e que é impossível definir o amor. De certo modo, concordo com elas, mas acho que existe mais, que a importância da pergunta é maior. Afinal, como saber se amo se não sei (definir) o que é o amor? Ainda lembro do medo que tinha, e que em parte ainda tenho, pra falar os primeiros "Eu te amo". O primeiríssimo, o que tirou minha virgindade amorosa, levou seis meses para sair, e quando saiu me deixou um sentimento de culpa que levei mais três meses para dar "um foda-se". Pensava nas conseqüências caso minha fala não fosse verdade, e pior, pensava nas terríveis conseqüências caso ela fosse. Acreditava que o ato de pronunciar essas três pequenas palavras prenunciavam uma divida eterna para com a outra pessoa, uma prisão perpétua para com ela, deixando-me submisso e vulnerável frente aos seus caprichos . Mas o tempo, a prática e a persistência mudaram algo em mim... deixei de sentir medo do "Eu te amo", tanto de falar como de ouvir, e isso aconteceu embora minha capacidade de definição do Amor pouco tenha se transformado... O que mudou então???

Como falei anteriormente, também compartilho da idéia de que definir é limitar, pelo menos em alguns casos. Contudo acredito que o ato de definir também ilumina. Somos homo sapiens sapiens... nossa evolução foi categorizada cientificamente pelo tamanho de nosso cérebro e nossa capacidade cognitiva, e deste então o amor tem se negado a render-se ao nosso progresso, foge de nossos conceitos e escapa de nossas conclusões. Contudo, a palavra dita liberta. Mesmo sem saber o que é o Amor, sem conseguir descrever os traços de sua face, suas formas ou cores, o primeiro "Eu te amo" que pronunciei, o primeiro que senti absolutamente como verdadeiro, surpreendeu-me. Surpreendeu-me o fato de que, após pronunciá-lo, não senti medo, não senti dúvida, vergonha e tão pouco pesar, e se nada disso aconteceu, por certo era porque eu realmente amava. Ou seja: descobri que amava após pronunciar a palavra amor.

Acredito sinceramente que somos analfabetos emocionais... tentamos utilizar a lógica racional para compreender fenômenos que não a tangem. Buscamos fórmulas cognitivas, lineares e causais: A + B = Amor; capturar sinais que denunciem sua presença, que precipitem sua manifestação... Razão lógica muito eficaz para matemática, mas nada prudente para lidar com as emoções.
A verdadeira questão, me parece, se trata de aprender a pensar com o corpo inteiro. É um pensar não cognitivo, mas aprender com o tempo a identificar aquilo que se sente, seja raiva, inveja, paixão ou amor. Reconhecer o sentimento em sua forma natural, ao invés de codificá-lo como conceito, reconhecê-lo como lingaguegm próprio de sentimento, de sensações do corpo, de poesia da alma... ou então das sensações da alma e da poesia do corpo. Mas, definitivamente, tenho aprendido que não é possível levar o amor tão a sério, ainda mais quando me pede que apenas brinque com ele...

Mosaico

Nem olho por olho...
Nem dente por dente...
Mas peça por peça...
E ponto por ponto...

Sair sem saber aonde chegar...
Partir sem intenção alguma...

Apenas juntar peças e unir pontos!
Cada peça existindo em liberdade,
Sem imagem que se forme na negação...
Assim é possível representar o amor!

Rafael Machado

Nota do autor

A estrutura do Mosaico é uma forma bastante apropriada para representar a intencionalidade deste blog. Quando construímos um Mosaico, vamos colocando peça por peça na expectativa de, ao final, formar uma figura. As imagens de Mosaico não são tão nítidas, nem tão detalhadas, e suas formas são identificáveis mais facilmente quando constituem figura já conhecida por nós. Ela é feita pela soma de suas pequenas partes, feita pra olhar de longe. Cada peça, em si, pouco constituí, mas em sua finalidade carrega sua razão de ser. E a figura está além destas mesmas partes. Esse é o intuito desta página, e por isso Mosaico é um termo que acredito lhe cair tão bem...

O desafio estabelecido aqui é refletir sobre o amor. Carrego esse passatempo comigo já a bastante tempo. Como um Mosaico, essa reflexão se construirá através de peças que, espero, constituirão uma figura aos poucos... Escrevendo e refletindo sobre poesias, músicas, atitudes, informações... Buscando peças psicológicas, sociológicas, políticas, religiosas... Formando a figura mais detalhada possível, teorizando, refletindo e sentindo não apenas um amor que existiu e que existe, mas em especial a possibilidade de uma forma de amor que virá. Se trata de criar figura nova...

Espero que me ajudes a formar essa figura...

Anda... Coloca logo tua peça...



Rafael Machado

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Há muito tempo não escrevo neste espaço, e existem variados motivos para isso. A entrega total e imparcial a um outro tipo de amor ocupou meus pensamentos por algum tempo... sim, pode não parecer mas falo daquilo que alguns chamam de trabalho! Trabalho, pra mim, é puro tesão, é amor feito visível, e por isso quando me ocupo demais com uma tarefa é porque estou desesperadamente apaixonado por ela. Foi isso que aconteceu nos ultimos 9 meses...
Outro fato é que não amei... sim, e seria de certa forma impossível, ato verdadeiro de infidelidade ao meu sentimento de paixão pelo que fazia, e embora possamos amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo, a paixão é bem mais possessiva e não nos permite tamanha flexibilidade...
E descobri uma coisa que já sabia... Só consigo refletir sobre o amor quando amo. Se isso não acontece, nunca atingo a ousadia de terminar uma frase que seja sobre o assunto! Amor é discurso que não cabe na boca de um não iniciado, e para atingir sua verdade é necessário que se percorra o caminho dos sentidos e sentimentos.

Por isso, sem amar, não me autorizo a construir verdades sobre o q não sinto. Mas, através da exigência de uma amiga a postar aqui, fui atrás de meus cadernos... e sim, eles possuiam preciosidades que caberiam neste momento, mais do que em qualquer outro talvez. Essas preciosidades, minhas precisosidades claro, se referem a cartas e pensamentos que escrevi ao longo de relacionamentos na busca por entender e sentir de forma mais autêntica aquilo que acontecia em mim... o amor. Sigo, então, a expor um conjunto de cartas que escrevi para diversas companheiras, geralmenete através de cartas, onde o amor e a reflexão sobre se implicavam um no outro, em busca de libertação!

Rafael Machado
19 de Abril de 2008