
A provocação para criar este blog surgiu de algumas discussões que participei na comunidade Amor Livre, no orkut. Provocação não com sentido de ter sido desafiado por alguém, mas do significado latino, pro vocare, algo como chamar a vocação de volta... As discussões naquela comunidade fizeram isso comigo. Compreendi nas falas que li um anseio forte em vencer formas de relacionamento repressivas, sufocantes, angustiantes, que não ajudariam a pessoa a vivenciar toda a sua capacidade de amar. Porém, embora as intenções sejam verdadeiras, existe muita confusão ao lidar com novos conceitos e definir novas coisas, o que acredito provocar uma dificuldade no processo de construção da mudança.
Assim, acho justo que os primeiros textos que poste neste blog sejam frutos dos comentários que postei na comunidade Amor Livre, pois foram suas discussões que me provocaram até aqui e foi lá que percebi que já era a hora de divulgar essas idéias. O texto que segue, portanto, é baseado num comentário sobre o tópico:
Afinal... O que é o amor???
Há muito tempo eu escrevi sobre um relacionamento, e as palavras têm se fortificado a cada novo enlace... Amei, amo, e continuarei amando, sem saber ainda o que é o amor. Anos depois Roberto Freire me abençoou com sua graça, afirmando que do amor é impossível fazer biópsia, somente autópsia. Contudo, invariavelmente, me pego constantemente em duas indagações filosóficas: "O que é o amor?" é a reflexão que surge quando estou sozinho, e "Eu amo?" é pergunta freqüente logo que me apaixono. A primeira pergunta me cala, a segunda me apavora.
Confesso que tenho uma certa inveja das pessoas que me afirmam que não se preocupam com essas dúvidas, afirmando categoricamente que definir é limitar, e que é impossível definir o amor. De certo modo, concordo com elas, mas acho que existe mais, que a importância da pergunta é maior. Afinal, como saber se amo se não sei (definir) o que é o amor? Ainda lembro do medo que tinha, e que em parte ainda tenho, pra falar os primeiros "Eu te amo". O primeiríssimo, o que tirou minha virgindade amorosa, levou seis meses para sair, e quando saiu me deixou um sentimento de culpa que levei mais três meses para dar "um foda-se". Pensava nas conseqüências caso minha fala não fosse verdade, e pior, pensava nas terríveis conseqüências caso ela fosse. Acreditava que o ato de pronunciar essas três pequenas palavras prenunciavam uma divida eterna para com a outra pessoa, uma prisão perpétua para com ela, deixando-me submisso e vulnerável frente aos seus caprichos . Mas o tempo, a prática e a persistência mudaram algo em mim... deixei de sentir medo do "Eu te amo", tanto de falar como de ouvir, e isso aconteceu embora minha capacidade de definição do Amor pouco tenha se transformado... O que mudou então???
Como falei anteriormente, também compartilho da idéia de que definir é limitar, pelo menos em alguns casos. Contudo acredito que o ato de definir também ilumina. Somos homo sapiens sapiens... nossa evolução foi categorizada cientificamente pelo tamanho de nosso cérebro e nossa capacidade cognitiva, e deste então o amor tem se negado a render-se ao nosso progresso, foge de nossos conceitos e escapa de nossas conclusões. Contudo, a palavra dita liberta. Mesmo sem saber o que é o Amor, sem conseguir descrever os traços de sua face, suas formas ou cores, o primeiro "Eu te amo" que pronunciei, o primeiro que senti absolutamente como verdadeiro, surpreendeu-me. Surpreendeu-me o fato de que, após pronunciá-lo, não senti medo, não senti dúvida, vergonha e tão pouco pesar, e se nada disso aconteceu, por certo era porque eu realmente amava. Ou seja: descobri que amava após pronunciar a palavra amor.
Acredito sinceramente que somos analfabetos emocionais... tentamos utilizar a lógica racional para compreender fenômenos que não a tangem. Buscamos fórmulas cognitivas, lineares e causais: A + B = Amor; capturar sinais que denunciem sua presença, que precipitem sua manifestação... Razão lógica muito eficaz para matemática, mas nada prudente para lidar com as emoções.
A verdadeira questão, me parece, se trata de aprender a pensar com o corpo inteiro. É um pensar não cognitivo, mas aprender com o tempo a identificar aquilo que se sente, seja raiva, inveja, paixão ou amor. Reconhecer o sentimento em sua forma natural, ao invés de codificá-lo como conceito, reconhecê-lo como lingaguegm próprio de sentimento, de sensações do corpo, de poesia da alma... ou então das sensações da alma e da poesia do corpo. Mas, definitivamente, tenho aprendido que não é possível levar o amor tão a sério, ainda mais quando me pede que apenas brinque com ele...
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