
Escrevi este texto no ano de 2003, pelo menos é a época que me surge quando penso nele. Este foi o período em que comecei a refletir de forma mais consistente sobre os relacionamentos amoros, digo de forma mais consistente porque acredito que esta reflexão é feita por todos, de uma forma ou de outra, deste que ouvimos o infeliz questionamento que busca nos ensinar o conceito de Identidade... "Quem é o amor da mamãe?".
De lá para cá a reflexão, mesmo identificada simbioticamente com a ação, sobre os relacionamentos amorosos ocupa espaço na vida de todos, mesmo que em seu contrário, na reflexão sobre a falta de amor.
Por ser antigo, este texto possui ainda algumas crenças limitantes do amor burguês, e mesmo um certo tom romancista, que hoje não condizem mais com a realidade. Mesmo assim, e creio também justamente por isso, coloco este texto neste momento.
Abraços a todos
CANIBALISMO AMOROSO
De lá para cá a reflexão, mesmo identificada simbioticamente com a ação, sobre os relacionamentos amorosos ocupa espaço na vida de todos, mesmo que em seu contrário, na reflexão sobre a falta de amor.
Por ser antigo, este texto possui ainda algumas crenças limitantes do amor burguês, e mesmo um certo tom romancista, que hoje não condizem mais com a realidade. Mesmo assim, e creio também justamente por isso, coloco este texto neste momento.
Abraços a todos
CANIBALISMO AMOROSO
Por Rafael Machado
Ela cortou o namorado em pedaços e ensopou, enquanto a cabeça e os pés foram ao forno. É real, pode procurar no jornal. Todo mundo se assusta e acha a coisa um tanto maníaca, mas devo confessar que gostei da idéia. Canibalismo amoroso, é como classifiquei o fato, e se as pessoas se assustam é porque não percebem que esse é um acontecimento coditiano.
Amamos para sermos amados, estabelecendo uma relação de troca com nossos parceiros. "Eu te amo", dizemos, mas se em seguida não ouvirmos um "eu também" tratamos logo de quebrar o vínculo e procurar outra pessoa disposta a nos dar aquilo que precisamos. Não sei se isso é bom ou ruim, apenas falo do que acontece.
Não temos o costume de darmos amor. Pelo contrário, o comercializamos, e isso porque precisamos do outro para nos sentirmos amados. A lógica é um tanto simples: como eu não consigo me amar e nem você consegue se amar, então eu te amo e você me ama e tudo acaba bem. Ficamos mais leves, mais sorridentes, mas felizes, e aquela sensação de vazio e solidão que tanto nos encomoda desaparece.
Mas acontece que amor não é moeda, não é favor, não é tapa-buraco. Não pode ser trocado, medido ou cronometrado. Não obedece as leis do comércio, não rende juros. Amar é coisa boa, simples, de fácil acesso. Surge espontaneamente com o ato de ser quem se é, de ser inteiro, feliz, completo. Nada de procurar metade de laranja, de ler horóscopo para achar a alma gêmea que se esconde Deus sabe onde. O amor surge e se multiplica quando a gente se encontra com a gente mesmo no tempo presente. E se eu tenho de sobra eu posso te dar sem precisar mais receber em troca. Migalhas de paixão é aquilo que trocamos, e amor gratuito é aquilo que nos preenche.
E é nesta necessidade do outro para nos sentirmos preenchidos que nós o ensopamos e comemos, e esta é apenas a forma mais material da coisa: devorar o outro para matarmos nossa fome de afeto e de carinho.
Eis um belo jantar a luz de velas. Numa cadeira, nós, os devoradores. Como prato principal as sobras de um relacionamento que não nos sacia mais. E a outra cadeira permanece vazia, disposta a receber outra pessoa vazia que nos procure para se preencher. Aí as leis da selva falam mais alto: é matar ou morrer!
............................................................................
NOTA:
Achei recentemente esta notícia e resolvi anexá-la aqui para exemplificar a materialidade de minhas idéias...
Mulher mata, corta e frita o marido na Bahia
A polícia prendeu neste sábado em Salvador a dona-de-casa Rosanita dos Santos, 47 anos, acusada de matar, esquartejar e fritar o marido, o soldado reformado da Polícia Militar da Bahia, José Raimundo dos Santos, 52 anos.
Os pedaços do corpo de José Raimundo foram encontrados escondidos em um saco plástico na casa do casal na vila São Cosme, periferia da capital baiana. A polícia acredita que a acusada retalhou o corpo do marido em cem partes para se livrar dele mais facilmente.
Os pedaços foram fritos em óleo - para evitar o mau cheiro - e colocados no saco. Rosanita negou participação no crime e disse que o marido cometeu suicídio.Fonte: Terra Notícias em 23 de Junho
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI568817-EI5030,00.html
Um comentário:
Esta semana assisti a peça CRU, no Porto Alegre em Cena. Ao fim do espetáculo seu texto em off, me pegou pelas entranhas, a melhor parte da peça: seu encerramento.Não pude deixar de procurar, pois queria ler novamente, com calma. Encontrei-o aqui. Inevitável deixar um comentário.
Postar um comentário